Díario de Uma Gravidez - Educação

 

  O que é importante que uma criança aprenda? Ou, dito de outra maneira, que uma pessoa aprenda? O que é uma “boa educação”, ser-se “bem educado”? 

Pensamos na “boa educação” como uma qualidade do comportamento ou como comportamentos específicos? Ser-se “bem educado” significa, geralmente, fazer aquilo que se espera de nós, comportarmo-nos de uma forma “normal” de acordo com preceitos básicos que são fundamentalmente prescritivos e que não dependem de nenhuma percepção específica, para os quais o medo é motivador suficiente. Medo de se ser repreendido, batido, excluído, rejeitado, gozado ou afins. Receio de não receber amor ou brinquedos ou sorrisos. Achamos que uma criança que não atira comida para o chão, que diz “por favor” e “obrigado” é bem educada. Uma criança que se abstenha relativamente de birras e não tiranize demasiado as outras pessoas. E cumpridas estas formalidades, mais tarde as da leitura e da “decência” o sucesso está garantido. 

Mas haverá uma educação que seja essencialmente regida por outra coisa que não o medo? O que poderá guiar uma educação profundamente humana? Assustamo-nos com o resultado de algumas educações “experimentais”, aparentemente liberais e de que parecem resultar pequenos tiranos. Mas qual é a minha visão, a minha percepção mais própria que tenho e posso usar para educar alguém? O que é que eu sei, o que é que eu entendo da vida, além do medo, que me forneça respostas e sentidos e me guie? O que é fundamental, para mim, enquanto ser humano, o que me define enquanto tal? O medo é a raiz de todo o condicionamento. Nesse sentido, muitos dos meus comportamentos são basicamente animais, pois vários animais poderiam ser treinados a reagir de maneiras semelhantes. Podem pegar sempre nos sapatos antes de sair à rua, fazer as necessidades num local apropriado e obedecer aos donos. Tudo isto dá jeito, mas será realmente humano? 

(...)

A raiz da educação ecológica não é necessariamente identificar a protecção da natureza com super-heróis que assim salvam o mundo, nem com a necessidade que temos de papel que nos obriga a reciclar. Esse é o princípio do medo. O que nos fará conservar a natureza é o exemplo e também a compaixão. O amor e a compaixão pela beleza de um planeta predado até ao limite e a nossa necessidade vital de não sermos predadores. Será o grito profundo da nossa alma que não suporta a fealdade e a solidão de um mundo exaustivamente manipulado, alterado, constrangido a desígnios tão vazios como os de ter mais e mais dinheiro e objectos. Será percebermos que abdicamos de tudo por muito pouco!


Sandra Gonçalves

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