AS DOENÇAS DA ALMA

“... Precisamos aprender e também ensinar às pessoas em desespero que em rigor nunca e jamais importa o que ainda temos a esperar da vida, mas sim exclusivamente o que a vida espera de nós... em última análise, viver não significa outra coisa que arcar com a responsabilidade de responder adequadamente às perguntas da vida, pelo cumprimento das tarefas colocadas pela vida a cada individuo, pelo cumprimento da exigência do momento... “

Viktor E. Frankl (1905-1997)

“Em busca de sentido: Um psicólogo no campo de concentração “ 

 

A alma, essa intérprete do espírito, é pouco escutada. Falamos de tudo, coisas da nossa vida à superfície, analisamos à luz da racionalidade o que nos acontece, aplicamos fórmulas já confirmadas na sua eficácia, mas relegamos para mais tarde ou para nunca mais a escuta interna dos rasgões e das marcas que as rotas foram deixando em nós. Esse é, em cada um, trabalho pioneiro e arrojado que exige coragem e abrigo na humildade, devido à ignorância do consciente.

O corpo, veículo sem o qual não há manifestação tangível na dimensão em que residimos, é martirizado pelas doenças da alma. A alma “adoece” quando os seus impulsos não são “lidos” correctamente e integrados no conhecimento pessoal e na actuação viva de cada um. A alma enferma-se quando a personalidade encarnada não a consegue ouvir e não busca cumprir os seus ditames. Quanto maior a sua grandeza e potencial de acessos, maiores as provas e os entraves a enfrentar, parece.

 

A alma possui olhos. São interiores, algo que os egípcios antigos tão bem conheciam. Os olhos da alma percepcionam tudo o que acontece. Dentro e fora. Em todas as direcções.

Se a alma não consegue fazer ouvir a sua voz, se se frusta na comunicação do seu propósito, a vida perde o sentido, a personalidade desnorteia, o sofrimento daí decorrente baixa à matéria e penaliza o corpo físico, pois nesta dimensão tudo tende a manifestar-se.

 

alma, voz, flama

involucrada em mistérios

assiste-me ó magnânima

no erguer da ponta dos véus

no diluir da névoa e do esquecimento

acode-me ó piedosa

ó farol da vida ó matriz

relembra-me o propósito

a intenção a meta

 

assiste-me ó alma minha

nos secretos caminhos da vida

relembra-me que sinais que códigos que sentires

são os meus por decifrar

onde foi que trilhei a rota errónea

 

se tomei o precipício por montanha iniciática

conduz-me ó sábia  ó benigna

ó omnipotente estrela intersideral

lembra-me o desígnio

esclarece o intuito a finalidade a mira

do meu sofrimento

 

ó alma  ó sopro  ó princípio vital

assiste-me ó poderosa

na tessitura das pontes entre mundos

ajuda-me a evocar

a reminiscência

 

                                                                                                                                                                                                                                               

Mariana Inverno, Notas à Sombra dos Tempos II

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