RELIGIÃO II

Temos direito a sermos príncipes do espírito, temos direito a florescer.

Temos o direito de recusar suseranias, senhores de nós próprios, no alto de nós próprios. Temos direito às suas dádivas, às nossas dádivas, não mediadas e sem pedir autorizações. Temos direito a dançar nas amplas salas e a habitar em nós e no mundo as novas geografias. Temos direito a ser barca, tesouro e mercador. Mercadores de Luz, chamavam-se... Temos direito a este mundo, que é o nosso, que agora e por agora é nosso, e a reclamá-lo, recriando-o à nossa imagem maior. Temos direito a dar sem limite e a fazer nascer das pontas dos nossos dedos e do fogo dos nossos lábios flores ou gemas, tesseracts, geometrias do invisível. Temos direito a que o pensamento seja uma cornucópia viva, projectada flecha infinita, que incessantemente construa e desdobre riquezas enquanto cresce e cria. Temos direito ao riso e ao Bem, às éticas do infinito. À beleza e a dançar nas altíssimas salas azuis, de mar claro e aberto.Temos direito às palavras, ao uso de todas as letras e a experimentar todas as semânticas. Temos direito de não ter medo. Temos direito a recusar ideologias e a achá-las parvas e a chamar-lhes parvas. Temos direito a não admitir obediências, subtis ou grosseiras.

Temos direito a implantar aqui o nosso reino, degraus acima na liberdade. Temos direito à saúde perfeita, à abundância, à vida gratuita, a amar e a ousar na liberdade das nossas consciências.   Temos direito a envergar mantos dourados e a não explicar se são tecidos de ouro ou crepúsculo.

 

SANDRA GONÇALVES

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A NOSSA RELIGIÃO