Extractos de “A MENSAGEM” - Fernando Pessoa

Outros haverão de ter
O que houvermos de perder. Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,

Foi achado, ou não achado,

Segundo o destino dado.

Mas o que a eles não toca

É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.

E por isso a sua glória

É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.

Que costa é que as ondas contam

E se não pode encontrar
Por mais naus que haja no mar?

O que é que as ondas encontram

E nunca se vê surgindo?

Este som de o mar praiar

Onde é que está existindo?

 

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.

Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.

Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,

Clareou, correndo, até ao fim do mundo,

E viu-se a terra inteira, de repente,

Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te portuguez..


Do mar e nós em ti nos deu sinal.

Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.

Senhor, falta cumprir-se Portugal!

Fernando Pessoa

Previous
Previous

A SEGURANÇA DESTAS PARALELAS - Pedro Tamen

Next
Next

LUSITÂNIA QUERIDA - Marquesa de Alorna