CIDADE - Sandra Gonçalves

Onde as Vozes dos antepassados não entram,

não respiram

Onde não nos falam ou guiam os ventos.

Sem azuis de mar a navegar os céus infinitos,

Demarcados, inscritos de antigas

Estrelas

E Sóis

E árvores de raízes maiores

Que o Tempo

Cidade labirinto

Perda

Prova

Deserto de sentido povoado de coisas

Vagas, como a alma dos mortos confusos.

Trevas cor de laranja

Paredes fechadas dentro de muros

Vidas adormecidas entre vidros

e o som baço dos carros.

Sinais, signos intrincados

Pistas falsas

Que não poderão nunca saciar a sede de infinito da Alma Humana

Ela mesma infinita, agora e sempre.

Saudades da terra fresca e quente, da matéria,

Pulsante, da vida.

Da terra de luz que se pode comer

Da cal e da brandura dos perfumes.

O que há além?

De onde nascem a manhã e o futuro?

Para onde voam os pássaros?

Cidade permanentemente sonâmbula,

Irreal

Escorregadia como um verme

Sem metáforas de coisas boas.

Psique, busco o teu fio.

28 Abril de 2000

Sandra Gonçalves

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