Filha Rejeitada

Questão colocada por "Filha Rejeitada"

"Os meus pais divorciaram-se quando eu era pequena. Vivi sempre com a minha mãe, de quem gosto muito e senti o mesmo da parte dela até à minha adolescência, altura em que ela mudou e passou a tratar-me mal e a descarregar em mim todas as suas frustrações. Talvez ela não me tenha perdoado por eu nunca ter rejeitado o meu pai...

Passei coisas indescritíveis com a minha mãe que não perde uma oportunidade para me humilhar (tenho hoje 54 anos, sou enfermeira de profissão e mãe, divorciada também) e, por uma questão de respeito por mim própria, tive de cortar relações com ela. Só os meus filhos a contactam.

Estou mais tranquila assim mas, quando penso que ela, com mais de 80 anos, morrerá em breve, sinto uma leve inquietação.

Será que fiz bem?"

Resposta de "O Correio de Hipácia"

"Filha Rejeitada, lamento a sua situação, pois é uma das mais complexas. 

Frequentemente, o problema maior dos divórcios quando há filhos é que o casal não estava preparado para os ter e, quando as coisas falham, não só utilizam as crianças como instrumentos de manipulação, como projectam as suas frustrações nelas, a partir de detalhes tão secundários como a parecença física com o ex-cônjuge, ciúmes, etc. Isto é muitas vezes um processo inconsciente e difícil de solucionar. 

Imagino que no relacionamento com a sua mãe deve ter-se sentido obrigada a essa rotura (por respeito por si própria, como diz). Mas alerto-a para o facto da relação com a mãe ser fulcral para a nossa própria resolução e segurança pessoal e que, sem ter resolvido o nosso "passivo" com ela, sentiremos muitas dificuldades pela vida fora.

É possível que a sua mãe seja uma pessoa descompensada e difícil, mas é a sua mãe, a única que tem. Essa inquietação que sente quando pensa que ela vai possivelmente partir em breve é sintomática.

Recomendo-lhe que olhe bem dentro de si e examine cuidadosamente a sua relação com a sua mãe. Fale interiormente com ela e diga-lhe em silêncio o que sente e como gostaria que houvesse paz entre ambas. Tente acarinhar dentro de si algumas memórias boas com ela (que as tem com certeza), visualize esse momento mágico em que ela a deu à luz e agradeça-lhe. Abrace-a na distância, a partir da sua alma.

Sei que isto soa a lirismo, mas funciona. 

E fique atenta aos sinais da vida, que é sábia. Se estiver determinada em construir uma ponte de paz e compreensão com a sua mãe, a vida conspirará a seu favor. Dias felizes lhe desejo!"

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