SELO - Sandra Gonçalves

Para SHM

  

Não falarás a linguagem sagrada, disseram-nos. Nada dirás em chamas. Não acordarás os mortos. Não sanarás as feridas. E há uma espécie de morte e uma espécie de mal que vela o mundo. Que o faz pertencer ao domínio daquele que dorme e que esquece. Porque as tuas palavras estão vivas de amor néctar imortal. Habitam-nas flores desconhecidas e as flores são feitas de chama, ardentes de palavra sem dicionário, palavra incodificável, secreta linguagem dos pássaros em fluxo perpetuo. Palavra do ausente, do longe, do por conhecer. Palavra do amor íntimo. Da divina paixão. Palavra gesto criador. Palavra das fontes. Gesto das fontes.

Não falarás a linguagem sagrada. Essa falam-na os deuses, e enquanto a tua for uma língua morta, uma língua do tempo e do pó, do signo e do não-ser - não ressuscitarás.

Sandra Gonçalves

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