CHAMA NAVEGANTE - Mariana Inverno

Alteou-se, num ápice, a flama, como chamego que inesperado se revelasse. À tona de água, deslizante  como luz cativa da orientação de mão invisível, avançou  o invólucro de mundos diversos, interligados uns aos outros, cada um portador da sua glória imaterial de que a tangibilidade é mero esboço.

Seriam tantos os transtornos, no movimento transformacional que aí ocorre, chispas, labaredas, as agruras pontiagudas de mundos em formação, barreiras de água que a força eleva e despenha num passo de eterna dança. Mas ela, a barca-chama, contentor das matrizes várias, ela avança, incólume e silenciosa como o saber atávico.

No encalce da manifestação, arrasta os moldes e vai colhendo impulsos no trajecto. Ditames das águas, ditames dos ares. E mais ainda, tudo o que se não sabe mas que, actuante na vibração, cava sulcos, expande céus, modera o fogo criador, ergue as fundações dos templos naturais que poucas vezes reconhecemos.

Mundos que tapam mundos, uns revelados outros por desvelar.

Mariana Inverno, in “Fios de Luz”, Desenhos: Felippa Lobato, 

Ed. RELIGARE, 2015

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